Curamoria + Thiago Cândido

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Quando um está ganhando, então todos estão perdendo.

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Vou contar uma vivência minha que fala sobre fraternidade e aprendizagem coletiva. Indicado para professores, líderes, analistas RH, cientistas políticos, pais e toda a comunidade criativa.

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jun 15, 2025
∙ Pago

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Quando um está ganhando, então todos estão perdendo.
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Na edição #4 da Curamoria eu selecionei uma história pessoal e do tempo da escola.

Esta curadoria fica aberta até a próxima edição, depois, somente para assinantes.

→ Se ela receber 100 likes fica aberta para todos por tempo indeterminado.

→ No final, responda a pergunta-desafio (se for capaz).

→ E, para os assinantes, tem gravação exclusiva com a minha voz original. Dê o play na sessão exclusiva.


Domingo, 15 de junho de 2025.

17:25p.m.

Frase-inspiração: a ideia não é vencer mas ouvir o canto da fraternidade. (Esse canto pode ser muito sútil, em alguns casos imperceptíveis, em outros ensurdecedores).

Se você deseja ser um anunciante da Curamoria, escreva para ocandidolab@gmail.com

Talvez, esta seja uma das palavras mais importantes desse momento histórico (na minha limitada opinião).

O chatgpt define fraternidade como: “A atitude de reconhecer o outro como alguém igualmente digno de cuidado, respeito e amor — como um irmão ou irmã de caminhada, mesmo sem laços familiares”.

Para refletir sobre essa ideia, eu me lembrei de uma das minhas experiências escolares. Uma bastante especial.

Este texto é em parte uma vivência minha e em parte uma singela homenagem a uma professora que tive a honra de encontrar.

Uma história da escola

Eu estava no Ensino Fundamental e estudava numa escola estadual em Belo Horizonte/MG.

Teresinha, minha professora de biologia, é a personagem central dessa história. Ela sempre foi uma professora interessante, falava outros idiomas e era reconhecida por essas habilidades.

Lembro que, quando a turma estava muito barulhenta, ela nos pedia silêncio... em francês. A gente não entendia as palavras, mas entendia o que ela queria dizer.

Um dia, ela trouxe uma dinâmica para a sala. Uma espécie de jogo — e que, com o tempo, virou uma grande lição de vida.

A dinâmica

A turma foi dividida em cinco grupos, com cerca de oito alunos cada.

No quadro, a professora escreveu as regras. Eu não lembro detalhadamente delas, mas fiz quase uma arqueologia da estrutura para registrar essa dinâmica e disponibilizá-la para vocês.

As regras do jogo:

  • A professora faz uma pergunta por rodada sobre o tema, no nosso caso o tema era Biologia e marca o tempo com um cronômetro.

  • Cada grupo tem um líder por rodada. A função dele é se reunir com os outros líderes do lado de fora da sala enquanto o grupo correspondente resolve a questão da disciplina dentro da sala.

  • Ao final do tempo, cada grupo levanta uma plaquinha correspondente a letra da resposta certa: A,B,C, D ou E.

  • Além da plaquinha com a resposta, o grupo deve levantar a placa com a indicação da pontuação desejada. Haviam quatro cores: vermelho, azul, amarelo e verde (fica mais claro com a informação presente na sessão “dinâmica da pontuação” abaixo).

  • Ganha os pontos o grupo que indicar a resposta correta da pergunta.

Ordem da rodada:

  • A professora faz a pergunta e aciona o cronômetro.

  • O líder de cada grupo deixa a sala e se reúne com os outros líderes para combinarem as cores que serão escolhidas.

  • O líder volta para a sala, encontra o grupo correspondente e transmite as informações conversadas com os outros grupos.

  • O grupo então escolhe a resposta da pergunta e define a cor correspondente da estratégia de pontuação nas plaquinhas.

  • A professora encerra o cronômetro e faz a contagem regressiva para todos levantarem as placas ao mesmo tempo.

Dinâmica de pontuação:

  • A cada rodada, o grupo levanta duas placas:

    • Uma com a indicação da resposta (A,B,C ou D)

    • E outra placa com a indicação do raio de pontuação (vermelho, azul, amarelo ou verde).

Mas, aqui estava o “detalhe”, o que chamei de raio de pontuação revela a estratégia escolhida pelo grupo. Para levar a pontuação máxima (correspondente ao maior raio, a cor vermelha) precisava convencer que mais 1 grupo levantassem a mesma cor. Ou seja, o líder precisava conversar/combinar/convencer/aliar quais cores os outros grupos iriam levantar.

Cores versus raio de pontuação (recebe a maior pontuação quanto menor o número de grupos aliados):

  • Vermelho vale 50 pontos e depende que mais 1 grupo levante a mesma cor.

  • Azul vale 40 pontos e depende que outros 2 grupos levantem a mesma cor.

  • Amarelo vale 30 pontos e depende que outros 3 grupos levantem a mesma cor.

  • Verde vale 20 pontos e depende que outros 4 grupos, ou seja, todos precisava levantar essa cor.

  • Pontuação mínima de 5 pontos para o grupo que acertasse a questão mas não conseguisse o número mínimo de plaquinhas na cor correspondente.

A função do líder era “alinhar” qual cor iria ser escolhida por cada grupo em cada rodada. Cada participante do grupo tinha a sua chance de ser líder e fazer uma escolha diferente na rodada em que fosse escolhido para representar o grupo.

E caso não houvesse o número de plaquinhas suficientes na cor correspondente, os grupos levavam a pontuação mínima.

Se dois grupos acertassem a questão e levantasse vermelho, os dois grupos ganhavam 50 pontos, ou seja, 100 pontos no total para dois grupos. O restante levaria os pontos correspondentes aos acertos e a combinação de cores, ou a pontuação mínima se não houvesse consenso.

Se dois grupos escolhessem vermelho, os outros três tinham que escolher azul, para terem a segunda melhor pontuação, seguindo a estratégia de pontuação.

A grande sacada era que a única forma de todos fazerem pontos seria optar pela cor verde. Optando por essa estratégia (verde), sempre, todos os grupos que acertassem a questão levariam 20 pontos a cada rodada. 5 grupos vezes 20 pontos somam 100 pontos por rodada para toda a sala. São 100 pontos garantidos para a sala a cada rodada.

Geralmente, o que ocorria na reunião dos líderes era manobras para fazer “aliados” e lutar contra “oponentes”.

A diplomacia ainda não era conhecida por nós, e também não foi o foco da matéria.

Resumo das rodadas:

O mais comum era o grupos escolher a pontuação máxima em toda rodada.

Muitas vezes o grupo que combinou de levantar a mesma cor mudava a plaquinha na hora H para a espanto de alguns. Haviam blefes e também houve competição.

Alguns grupos se reuniam para que outros perdessem. Ex.: grupo dos CDF vesus o grupo do fundão (essas siglas eram comuns na minha época).

Não era raro um grupo buscar pontuação menor para “não deixar” que algum outro grupo leve a pontuação mais alta, ou seja, sabotagem.

A crença mais utilizada pelos grupos:

_É “mais fácil” escolher a opção em que se pode ganhar mais pontos por rodada.

_“Com sorte” levamos a pontuação máxima e “vencemos o jogo”

Nenhum grupo optou pelo caminho em que todos os grupos ganhavam a rodada.

Não optavam pelo verde porque receberiam “poucos pontos” para cada grupo em relação as outras opções que pareciam “melhores”, mais “lucrativas” e que levariam “mais rápido” a vitória.

A armadilha era a “facilidade”.

[pausa aqui, vou repetir]

A armadilha era a “facilidade”.

***

Na hora do sinal da professora as escolhas eram sempre imprevisíveis porque a “estratégia” de cada grupo era “vencer” primeiro. Era levar o máximo de pontos por rodada as custas dos outros grupos no menor tempo possível.

Para a surpresa de todos e sobretudo dos líderes era muito comum receber a pontuação mínima, o que demonstrava nenhum consenso.

A certa altura do jogo, todos muito adrenalizados, a professora retira o véu com esta pergunta:

_Porque vocês não escolheram a opção em que todos os grupos ganham pontos em todas as rodadas?

Reflexão:

Se algo é bom para todos então todos estão “ganhando”. Se algo é bom apenas para um então todos estão perdendo, inclusive quem “acha” que está ganhando.

Quando um está vencendo, todos estão perdendo.

Muitos anos depois, talvez mais de 15, eu ainda me lembro dessa vivência. E como essa minha professora foi habilidosa em nos ensinar algo tão profundo, ao mesmo tempo simples e óbvio.

Hoje, eu percebo que realmente há momentos em que o óbvio precisa ser dito.

Foi como uma grande revelação.

Aquilo me marcou.

Me marcou a falta de capacidade de nós alunos de perceber que havia uma forma em todos saíam “ganhando”, não só as pessoas do meu grupo, mas também todos os outros grupos.

Usei aspas porque ganhar talvez não seja a palavra ideal, mas era naquele momento, o que parecia ser o “objetivo” da dinâmica.

E claramente o objetivo não era esse. Mesmo que “tudo”, ou quase tudo, apontava para isso.

Conclusões do jogo:

  • Quanto mais cedo os grupos escolhessem a cor verde, mais cedo todos estariam ganhando pontos.

  • E quanto mais isso demorasse, mais fácil era “perder” pontos e não “ganhar” porque sempre dependia de convencer os outros grupos a levantar as plaquinhas “certas” e favorecer um grupo e desfavorecer outros.

Hoje penso como aquela dinâmica foi didática.

Ela simplesmente se aplica a muitos cenários e tem muitas camadas de significado, inclusive, me ajudou a trazer para a aplicação prática o conceito de fraternidade.

***

Viva as Teresinhas do Brasil.

Viva as professoras e os professores!


Larguei aqui e corri, responda se for capaz:

A cada 10 escolhas importantes que você fez nos últimos tempos, quantas beneficiaram todos os envolvidos? Responda nos comentários de zero a 10.

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Mais uma carta entregue.

Mais um dia em que venci à Resistência. (Se você não entendeu, volte à Curamoria #3 no link abaixo)

Porque a sua vida não sai do papel? Por que você não conhece a Resistência.

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Curamoria + Thiago Cândido
·
Jun 10
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